Perguntaram-me outro dia, na fila do banco, o que eu pensava sobre
o projeto de lei que transferia para as nossas crianças, a escolha do seu
gênero sexual. Olhei para a pessoa, um senhor baixinho, de meia idade, boné
vermelho já um pouco desbotado e que trazia estampado na aba, o nome de uma
distribuidora de gás de cozinha. Diante do meu silêncio, ele repetiu a pergunta
e me disse que o assunto estava sendo tratado em uma casa legislativa da
região. Na hora desconversei, disse a ele que não ouvira nada a respeito, mas na
verdade achei que o local não era apropriado para se desenvolver teses
polêmicas. A começar pelo meu conhecimento com bases empíricas de um assunto de
cunho universal, muito além de uma simples liberação de costumes ou até mesmo
de uma mudança de paradigma de feminilidade ou masculinidade. Mas
sim, de uma mudança física radical, com implicações emocionais e psicológicas
diretas na formação da personalidade da pessoa. Se eu quisesse, por exemplo,
jogar na defensiva, seguiria o conselho, politicamente correto, do meu líder
religioso, papa Francisco, de que “homens e mulheres com tendências
homossexuais devem ser acolhidos com respeito e dignidade”. E não avançaria
mais no assunto. Neste caso, eu estaria apenas concordando com o conselho de um
sacerdote celibatário com nenhuma vivencia efetiva no campo da sexualidade
humana. Por outro lado, se me voltar para ciência e buscar uma resposta sob a
luz da razão, descobriria que a antropologia classifica a orientação
homossexual como uma “desordem objetiva”. De objetivo, sei que a biruta
continua apontando para o lado que sopra o vento. As orientações dadas são
sempre de acordo com os interesses que cada grupo tem no assunto e enquanto as
discussões estiverem carregadas de ideologias, não haverá solução. Cada lado radicaliza
mais que o outro chamando até de imbecil os seus opositores, evidenciando que
apesar de vivermos num país, dito livre e democrático, as pessoas ainda não
aprenderam a conviver com opiniões diversas das suas. É preciso que alguma
coisa seja feita e o primeiro passo é acabar com o preconceito medieval que
qualifica as pessoas por sua opção sexual. Mas também não posso aceitar a ideia
absurda de que os pais após gerarem a criança, tenham que esperar até a mesma
atingir a idade escolar para decidir se quer se manter em módulo original ou se
transformar para viver até o seu selo de validade vencer, numa identidade
genérica. E neste caso, será que as crianças teriam maturidade suficiente para
entender o que a escolha de uma opção sexual acarreta?
Anildo Martins da Silva –Aposentado
E-mail:anildoms@yahoo.com.br
Imagem: mariabarriga.com.br