terça-feira, 17 de novembro de 2015

Perdida



Aliterações, anacoluto,
Anáfora e metáforas.
Estou perdida,
E a estrada é só ida.

E esse eco doido não retorna
As tolas perguntas que lhe fiz.
só sabe respostas tortas.
Por que a mães choram,
Os filhos morrem,
Os homens matam?
Apenas ecoam os vários ecos
Em mim.
O tempo que não para.
A saudade que lateja,
Os olhos que não choram.
O útero da noite
Que me abocanha,
Com as perguntas
Que não fiz.

Gladys Giménez
Imagem: flaviosiqueira.com 

sábado, 7 de novembro de 2015

A metamorfose do gênero



Perguntaram-me outro dia, na fila do banco, o que eu pensava sobre o projeto de lei que transferia para as nossas crianças, a escolha do seu gênero sexual. Olhei para a pessoa, um senhor baixinho, de meia idade, boné vermelho já um pouco desbotado e que trazia estampado na aba, o nome de uma distribuidora de gás de cozinha. Diante do meu silêncio, ele repetiu a pergunta e me disse que o assunto estava sendo tratado em uma casa legislativa da região. Na hora desconversei, disse a ele que não ouvira nada a respeito, mas na verdade achei que o local não era apropriado para se desenvolver teses polêmicas. A começar pelo meu conhecimento com bases empíricas de um assunto de cunho universal, muito além de uma simples liberação de costumes ou até mesmo de uma mudança de paradigma de feminilidade ou masculinidade. Mas sim, de uma mudança física radical, com implicações emocionais e psicológicas diretas na formação da personalidade da pessoa. Se eu quisesse, por exemplo, jogar na defensiva, seguiria o conselho, politicamente correto, do meu líder religioso, papa Francisco, de que “homens e mulheres com tendências homossexuais devem ser acolhidos com respeito e dignidade”. E não avançaria mais no assunto. Neste caso, eu estaria apenas concordando com o conselho de um sacerdote celibatário com nenhuma vivencia efetiva no campo da sexualidade humana. Por outro lado, se me voltar para ciência e buscar uma resposta sob a luz da razão, descobriria que a antropologia classifica a orientação homossexual como uma “desordem objetiva”. De objetivo, sei que a biruta continua apontando para o lado que sopra o vento. As orientações dadas são sempre de acordo com os interesses que cada grupo tem no assunto e enquanto as discussões estiverem carregadas de ideologias, não haverá solução. Cada lado radicaliza mais que o outro chamando até de imbecil os seus opositores, evidenciando que apesar de vivermos num país, dito livre e democrático, as pessoas ainda não aprenderam a conviver com opiniões diversas das suas. É preciso que alguma coisa seja feita e o primeiro passo é acabar com o preconceito medieval que qualifica as pessoas por sua opção sexual. Mas também não posso aceitar a ideia absurda de que os pais após gerarem a criança, tenham que esperar até a mesma atingir a idade escolar para decidir se quer se manter em módulo original ou se transformar para viver até o seu selo de validade vencer, numa identidade genérica. E neste caso, será que as crianças teriam maturidade suficiente para entender o que a escolha de uma opção sexual acarreta?
Anildo Martins da Silva –Aposentado

E-mail:anildoms@yahoo.com.br
Imagem: mariabarriga.com.br