sábado, 27 de outubro de 2012

Chinoca


vai a chinoca sem destino qualquer
Num potro manso com sela e rebenque
Tranças molhadas balançando ao vento
Mostrando a coragem interior d a mulher

Vestido de chita colado ao corpo quente
Na estrada esculpida nos prados da terra
Herança da água que vem na serra
Lavando a estrada e a alma da gente

Moça de brio que o povo respeita
Chinoca brejeira coberta de feitiço
Prenda afável que todo gaúcho cobiça
E pra mãe de seus filhos também não rejeita

J.G.Ribeiro
Imagem: Google

terça-feira, 23 de outubro de 2012

O Saco de Brinquedos



Lá vai a velha senhora, levando em seus ombros um saco com os poucos pertences que lhe restam, chamando a atenção por onde passa. Alguns olham com curiosidade, outros com compaixão. Mas a velha mendiga indiferente a tudo segue sua caminhada. Certa tarde, quando estava descansando em um banco da praça, uma pequena menina veio ao seu encontro, contrariando a mãe que aos gritos lhe dizia para não se aproximar da estranha. Indiferente aos apelos da mãe, a criança sentou- se ao lado da mendiga e perguntou:
 - O que a senhora traz dentro deste saco?
A velha senhora fica a olhar para a menina, parecendo não tê-la ouvido. Um longo silêncio se seguiu, ao final do qual diz como se falasse consigo mesma:
 - São lembranças, apenas lembranças de minha infância, passando a retirar delicadamente do interior do saco, o que restou dos brinquedos e das brincadeiras da sua infância. 
Aos poucos, o banco vai sendo ocupado por bonecas sem cabeça, braços ou pernas. Peteca, pião, corda pula-pula, saco de riso, passador de cabelo. Um coelho de pelúcia, faltando uma orelha, um velho e surrado livro de Monteiro Lobato, e, por fim, um potinho vazio que a faz lembrar o doce cheiro de canela da casa de sua avó. A pequena menina está encantada com o que vê e pergunta se pode ficar com alguns brinquedos. Sem responder à pequena, a velha andarilha começa a colocar lentamente cada um dos brinquedos de volta no saco e, ao final diz:
- Minha pequena criança, estes brinquedos de nada te servirão. O valor de cada um deles está nas recordações dos dias de minha infância com os quais vivi e que guardo com muito carinho na minha lembrança, mas posso te dar um saco, para que um dia coloques também teus brinquedos e recordações, pois ao final é tudo que nos resta...   

Jandira Teresinha Weber
Imagem: Google

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Mestra

Segunda mãe de verdade
Com o dom da caridade
Não tem hora nem lugar
Para dar carinho alheio
A toda criança que anseia
O direito de estudar

Mestra palavra ternura
Que no coração articula
Paciência bondade e amor
Mestra palavra que invoca
Em cada coração que toca
O desabrochar de uma flor

 J.G.Ribeiro

Imagem: Google

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sábado, 13 de outubro de 2012

Ah! Como é bom ser criança!



Ah! Como é bom ser criança
Ver a vida como ela é
Andar correr brincar
Fazer tudo o que quiser
Adorar os bichos e as plantas
E deles tudo curtir
Através da curiosidade inata
De ver ouvir e sentir

Ah! Como é bom ser criança
E um lindo brinquedo quebrar
Juntar sem querer os  pedaços
E um novo brinquedo montar
Descobrir que dentro de si
Existe um outro calado
Capaz de montar um brinquedo
Mais belo que aquele quebrado

Ah! Como é bom ser criança
Cobrir-se e despir-se à vontade
Sem que a malícia malvada
Tolha a nossa liberdade
Dormir bem sossegado
Sem ter que à noite pensar
Na hora do dia seguinte
Que vai ter de levantar

Ah! Como é bom ser criança
Brigar bater apanhar
Sem ter guardado rancor
Que lhe faça ao próximo odiar
Imitar sem aos mais velhos
Criticando a sua honradez
Sem saber que um dia na vida
Vai querer ser criança outra vez.


J.G.Ribeiro

Imagem: Google

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domingo, 7 de outubro de 2012

Eu quero a minha paz


Eu quero a minha paz. Eu quero a paz que vem dos ventos. A paz que vem da fúria dos mares. A paz que vem do movimento das árvores na tempestade da floresta. Eu quero a paz que vem dos conventos, dos seminários, dos retiros religiosos. Que vem das escolas, das igrejas e dos mosteiros.
Quero também a paz que vem dos corações humanos. De uma alma em prece. De um Espírito em meditação. Eu quero a paz que vem de Deus.
Eu quero viver a paz que vem de ti, do teu corpo, do teu espírito, do teu amor, do nosso acalanto. Quero a paz que vem da profundeza dos sentimentos. Quero a paz que cintila em teus olhos, na majestosa ondulação dos teus cabelos, no desenho da escultura do teu corpo. Mas quero também a paz que estimula a concórdia, auxilia na união dos povos, propicia amizade entre as pessoas, proporciona sossego, calma e quietação. A paz que traz serenidade se encontra com o silêncio e se completa com o amor.
Quero a paz dos escritores que iluminam os espíritos. Quero a paz pregada por Camões em seus versos. Por Camilo Castelo Branco e Érico Veríssimo em seus romances. Por Jorge Amado em suas histórias do mar. Quero a paz preconizada por pensadores e filósofos, como Malba Tahan, George Sand, Pitágoras e Allan Kardec. Quero a paz de um sonetista como J. G. de Araujo Jorge e de um folclorista como Simões Lopes Neto. Quero ainda viver a paz mística de um Paulo Coelho e a satirizada de um Luis Fernando Veríssimo.
Quando o mundo se livrar das guerras, eliminar a maldade, o ódio, a crueldade, a mentira, a estupidez e a ignorância, quando deixar de existir a angústia, o ciúme, a delação, o desprezo e a desarmonia, então o mundo será melhor, os homens se entenderão e se ajudarão e a humanidade mostrará a sua luz.
então eu viverei em paz. A paz que eu quero. A paz de que eu preciso. A paz que emana da natureza celestial. Quero e quero muito a paz que brota no coração dos seres humanos. Nos corações apaixonados que se nutrem dos sentimentos de ternura.
Quero a paz que tem o sorriso de uma criança. Quero finalmente sentir a paz que exala das pessoas iluminadas, que vieram para este mundo para irradiar e iluminar com o amor todo o planeta terra.
Reinando a paz em todos os corações de todos os habitantes podemos, então, emoldurar o mundo com a bonita frase do grande poeta brasileiro Antonio de Castro Alves, o poeta dos escravos, do navio negreiro e das espumas flutuantes: “ A cabeça que se levanta para o céu e o braço que se abaixa para a terra, voltam-se ambos para Deus.”


Erony Flores

Imagem: Google

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