sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

O Natal de cada criança


    


Rafael e Rafaela eram gêmeos e tinham 8 anos de idade. Eram filhos de André e Luiza, que moravam numa pequena cidade do interior. A mãe sempre comprava as coisas que eram para a filha e o pai as que eram para o filho. Assim dividiam as tarefas da casa, para que ninguém ficasse sobrecarregado, pois Luiza também trabalhava fora.

     Para não acumular tarefas no final de ano, André e Luiza planejavam o Natal para seus filhos e afilhados já no início de dezembro. Gostavam sempre de elogiar as boas notas que os filhos tiravam durante o ano, como também comentavam o bom comportamento que eles tiveram. Achavam que assim estariam contribuindo para o aperfeiçoamento do caráter de cada um.  Um dia chamaram os filhos para saber o que desejavam que Papai Noel lhes trouxesse naquele ano. Rafael, o menos tímido, respondeu que poderia ser qualquer coisa, mas seu pai insistiu e o menino acabou escolhendo uma bicicleta. Ainda sem saber o que pedir, a menina Rafaela pensou mais um pouco e disse  que gostaria de ganhar uma boneca bem grandona.

      O pai, o mais ansioso, no outro dia já estava na loja comprando o presente para Rafael, mas a mãe, que gostava de pesquisar mais, demorava para comprar as coisas.

     Os dias voavam e quanto mais aproximava-se o Natal,  as tarefas da casa aumentavam. Faltavam apenas 10 dias, quando Luiza resolveu ir à loja comprar o presente para sua filha, mas, no caminho, sofreu um terrível acidente e veio a falecer.

     André ficou transtornado com a perda da esposa, mas não podia fraquejar ante seus filhos e tentava substituí-la em todos os momentos. Mas a dor dos meninos e a falta da mãe eram irreparáveis.

     Os dias passavam, desta vez mais lentamente do que antes da morte de Luiza, e finalmente chegou  Natal. André nem se apercebera de que havia só um presente e repetiu o ritual que sempre fazia junto com sua esposa, na expectativa de ver o brilho dos olhinhos dos filhos ao desembrulharem os presentes. Chamando Rafael, deu-lhe o pacote com a bicicleta. Quando foi chamar Rafaela, deu-se conta de que a mãe não havia comprado o outro presente. Gaguejando, tentava explicar para a filha o que havia ocorrido, mas não conseguia. Vendo aquela cena triste e inconsolável, Rafael, com os olhos cheios d´água, deu seu presente para a irmã, dizendo-lhe: - Fica com a bicicleta mana, quando eu quiser andar você me empresta! O pai, emocionado com a atitude do filho, também encheu os olhos d´água e disse ao menino: - Muito bem meu filho! É uma bela atitude, mas, amanhã mesmo comprarei um presente para Rafaela e tudo ficará bem.

     Assim como Rafaela, muitas crianças no Brasil e no mundo todo, passam o Natal tristes por não terem recebido nenhum presente. Você pode fazer uma dessas crianças feliz, retirando na agência dos Correios uma cartinha e adotando uma criança para comprar-lhe um presentinho de Natal. Experimente!


   J.G.Ribeiro
Imagem: paduacompor.com.br

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Dia cinza



Dia cinzento,
Natural,
Apenas intento
Sanar meu mal.
Ranzinza o vento
Em meu quintal
Sopra tristes notas musicais
Nos galhos frágeis dos laranjais
O dia não passa,
Cabisbaixo está.
Dezembro taciturno.
De íris  melancólicas.
Não mais orvalhos
Sobre a relva.
Não mas sinceros
Os corações.
Dezembro - tarde triste.
Incertezas no amanhã.

Gladys Giménez 
Imagem: musicapensamentos.blogspot.com

sábado, 5 de dezembro de 2015

Qual é o seu Natal?


Sou oriundo de uma família numerosa e muito integrada. Por ser um dos últimos a nascer, sempre tive muitos privilégios e não me lembro de algum Natal sem receber pelo menos um presente. 
Era tudo muito simples e até um sabugo de milho com rodado de tampinhas de garrafa tinha lá os seus encantos. Mas a vedete mesmo era uma ambulância de madeira com o baú pintado de preto e branco, com os símbolos da polícia civil. Uma réplica perfeita do camburão de hoje. Trazia preso ao para-choque uma argolinha metálica onde amarrávamos um pedaço de cordão e saíamos levantando poeira pelo chão batido. São reminiscências de um passado longínquo, mas que nos comovia muito, porque representava o reencontro, todos juntos, a família completa. 
A mãe talvez fosse a pessoa mais feliz. Cansada, mas feliz. Uma semana antes, começava a encher as latas com bolachinhas, roscas e broas de polvilho. As cucas só saíam na véspera. Era tudo assado num forno caseiro e o fogo alimentado com galhos de acácia e maricá. A criançada mesmo se encarregava de juntar a lenha, porque os capões eram abundantes. 
Ao entardecer da véspera, sentávamos todos, lado a lado nos bancos da cozinha, o pai numa ponta e a mãe junto ao fogão, cevando o mate e esperando a hora do jantar. Não costumávamos trocar presentes, apenas as crianças eram agraciadas e de maneira modesta. O Natal daquela época era mais dentro das famílias. Celebrávamos Jesus na manjedoura. 
Não sou contra a exploração comercial que a sociedade consumista faz de uma data tão significativa. Mas este Natal é muito pobre. Fomenta o corre- corre, ao passo que o Natal é exatamente o contrário. É tempo de reflexão, de paz, solidariedade e tolerância. É tempo de abrir o coração, eliminar maledicências e dar espaço para o amor, a amizade e o companheirismo. Momento de escolhas. Em tempos natalinos, me recolho em silêncio, envolto por meus pensamentos, relembrando a paz da velha cozinha, a família e as rezas da minha mãe.  

Anildo M. da Silva
Imagem: uirauna.net

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Em busca da paz


Silêncio...

O pequenino ser se empertiga preguiçosamente no ventre de sua mãe.

Tudo é paz...

De repente, sente como se estivesse sendo arrastado pela correnteza de um rio caudaloso, culminando numa explosão de luz e som. Seus olhos ardem, falta-lhe o ar...
Jogado no mundo, o pequeno grita e se debate, clamando pela paz que perdeu.

Nos primeiros anos de sua existência, quando pesadelos lhe assombravam as noites, ou joelhos ralados lhe corroíam a alma de dor, buscava no aconchego dos braços maternos a cura para  seus males, a volta ao estágio de Nirvana...a paz!

Doces beijos, roubados furtivamente na quermesse da igreja.

Sonhos, devaneios... Juras de amor eternizadas em alcovas de cetim, em lábios ardentes de carmim. Corpos entrelaçados em longos abraços, desejando que a paz sentida no êxtase do amor se eternize. Momentos efêmeros, de vida passageira, como o frescor das rosas que o tempo se encarrega de fazer murchar, definhar.

Varais de brancas e imaculadas fraldas, a abanarem ao sabor do vento sob o azul celestial... Paz!

Sonhos que se diluem como fragrância de perfumes...

Vitrines, saltos altos, neons, asfaltos.  Corações despedaçados, aros dourados jogados ao léu, para nunca mais. Gritos que se invadem, mergulho da ponte... Na busca da paz!

Grande cogumelo que se ergue e se derrama na forma de rosa – Rosa Mortífera desabrochada em nome da paz...

Silêncio...

Abismo...

Caos...

Vislumbre de luz no horizonte da branca ave mensageira, que traz em seu bico o ramo da vida, esperança e paz.

Jandira Weber
Imagem: imagesdaily.blogspot.com