domingo, 23 de outubro de 2011

Devaneios





Dedicação

Eu tinha uma vida monótona, até que, numa noite, nos conhecemos por acaso, mas não foi por acaso que nos apaixonamos.
E não foi apenas pelo desejo que me aproximei de ti, e sim porque percebi
a meiguice e a sinceridade em teu olhar.
Agora, juntos, me sinto reconfortado pela tua ternura e a intensidade de teu amor.








Confissão

Naquele momento, seu olhar era profundo e vazio.
Parecia penetrar dentro da minha mente
E eu sentia uma frustração amarga de perdê-la.
Por algum tempo, ela permaneceu segurando minhas mãos
E nessa crescente amargura, percebi que, aos poucos, sua vida era conduzida para o mistério da morte.
Agora sofro por não ter tido a humildade para pedir-lhe perdão nem a ternura para dizer-lhe “também te amo”.


Helio Rohten

Imagens: Google

Respeite os direitos autorais.

domingo, 9 de outubro de 2011

O Último Hendrix


Havia um gosto de despedida naquele conhaque que descia a seco goela abaixo. Escrevia com dificuldade um amontoado de palavras em uma folha sobre a mesa. Ao seu lado aguardavam um revolver com o tambor aberto e uma única bala. Aos seus pés estava Jimi que recebera esse nome por causa do Hendrix. O cão perseguia com os dentes uma pulga que corria pela sua barriga.
Era o fim, e já não havia mais o que escrever. Encarou o revolver e o projétil. Sugestivos. Sabia que tinha apostado alto demais em um jogo perdido, lhe restava soltar as cartas na mesa. Hesitou. Levantou-se e escolheu um vinil a dedo. Escutaria aquelas músicas com o mesmo apreço que um condenado à morte dá ao seu último cigarro. Olhou para Jimi e disse:
- Esse é nosso último Hendrix.
Olhou seu rosto no do banheiro, fragmentado em mil estilhaços. Sua mão não sangrava, mesmo assim enrolou-a com um trapo. Voltou da despensa com uma espécie de gaiola, olhou para o cão tirando suas medidas a olho e atou a gaiola na sua velha moto. Colocou suas poucas roupas em uma mochila. Jogou fora a folha sobre a mesa e com facilidade começou a dar sentido as palavras. Ele derramou sentimentos sobre a folha. Encarou mais uma vez a arma e o projétil. Ainda sugestivos.
Encontrou Jimi na porta com a coleira na boca espanando o chão com o rabo.
- Esse não é um de nossos passeios matinais amigo – disse ele – Mais uma vez fomos golpeados pelo destino e estamos por terra. Só que dessa vez, vou bater a poeira e vou cuspir na cara do destino. Nem que seja sangue, nem que seja a própria vida. Seguirei pelo caminho daqueles que desistiram de se iludir, vou viver flertando com o acaso. Mas estarei por minha conta, parece perigoso, mas pode ser divertido, e você não é obrigado a ir.
O vira-lata batia seu rabo ansioso como se em algum código canino afirmasse que seria muito divertido. O homem sorriu, pois percebera que nunca estivera sozinho. O cão seguiu- o quando ele deixou bater a porta atras de si.
O vento da porta fechando fez a folha voar para o mofo debaixo do armário deixando o revolver e o projétil solitário sobre a mesa. Nas caixas de som, ainda se ouvia a guitarra estridente do último Hendrix.

Fábio Vinicius Monteiro

Imagem: Google

Respeite os direitos autorais.