sexta-feira, 17 de março de 2017

Ensinar era mais fácil






Está aberto o debate sobre a reforma do Ensino Médio. É um assunto para ser discutido por quem entende do “riscado”.

Contudo, todos nós temos um mínimo de experiência nesta área, pelo simples fato de que um dia também fomos alfabetizados, e os exemplos existem para serem utilizados. Creio ter dado algum trabalho às minhas queridas educadoras da época, pois era uma criança rebelde e briguenta, mas as dificuldades paravam por aí. Sim, porque desde os primeiros dias de aula, o aprendizado para mim passou a ser um desafio: precisava aprender a ler e a escrever disciplinadamente, para no ano seguinte trocar de turma. Não que aquela em que eu me encontrava fosse ruim, mas a minha motivação estava na primeira série “A”. Lá estava uma loirinha de olhos castanhos e acesos que me acelerava o coração logo pela manhã, quando eu passava defronte a sua casa, espremido entre tarros de leite, na carroça do seu Cristino, um bondoso leiteiro com quem eu pegava uma carona desde a minha residência, até o coleginho da dona Joana, como o chamavam carinhosamente, situado lá pelos lados do Fião.

Em conversa informal e respeitosa na hora do recreio, coloquei para uma das professoras que gostaria de trocar de sala. A resposta foi desafiadora. Aquela turma que eu tanto desejava estava mais adiantada que a nossa, porque os alunos haviam chegado à escola já semialfabetizados, ao passo que o meu grupo, apenas iniciava os primeiros contatos com o material escolar.

Mas não me abati. Só me restava um caminho, estudar, aprender a ler e escrever, ser um dos melhores, para no ano seguinte – devidamente aprovado – merecer fazer parte do segundo ano “A”, onde ela, por certo, estaria. Dediquei-me com afinco e já no fim do primeiro semestre, soletrava notícias de jornal para o meu pai que, orgulhoso, pedia que eu repetisse na presença dos meus tios.

Passei de ano, conquistei o tão sonhado lugar entre os mais adiantados, mas os meus interesses mudaram. É claro que a loirinha, minha primeira paixão, nunca soube dos meus sentimentos, mas sua beleza foi o motivo de tanto devotamento. Algo muito simples, que ainda existe até hoje entre os nossos meninos e meninas, quando bem orientados.

Evasão, repetência, autoestima, não se resolvem com decretos, mas com um bom programa de estímulo à educação, começando pela valorização do convívio familiar e dando condições decentes para a sobrevivência das pessoas.

Anildo Martins da Silva
E-mail: anildoms@yahoo.com.br

Imagem: Colégio Paulo Freire

Um comentário:

  1. Muito oportuno este artigo. A reforma do ensino brasileiro era para ontem, já estamos muito atrasados, mas nunca é tarde demais, entretanto, para fazer uma reforma adequada, o poder legislativo tem que consultar aqueles que trabalham o dia a dia com educação. J.G.Ribeiro

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