sábado, 5 de setembro de 2015

O Sonho do Velho Avião



O dia amanhecera cinzento.

Perfilado ao centro da pista, o velho avião espera pacientemente a ordem para decolar. Com o coração aos saltos ele mal pode controlar sua ansiedade. Sabe que este será seu último voo, pois ouvira o comandante dizer que já estava velho demais para continuar.

- Vou provar a eles que estão enganados, pensou o velho avião, mirando a linha do horizonte como fizera muitas e muitas vezes. 
Potência máxima. O ronco dos motores ecoou pelos ares. Voruuumm...

A velha fuselagem range e estala, e, aos poucos o avião vai se desprendendo do solo. É só uma questão de segundos e ele logo alcançará os ares.

Já nas alturas, o velho bimotor abre ao máximo suas asas, como uma grande e prateada fragata deixa-se planar, planar...  Embalado mais uma vez, pela algazarra juvenil dos passageiros, rumo à cidade de Orlando na Flórida.

Dia após dia, noite após noite, o velho avião sonha esquecido a um canto do aeroporto. Sua fuselagem reluzente com letreiros azul, que outrora cintilavam ao sol, hoje não passa de uma mistura de pó e ferrugem carcomida pelo tempo.

E o velho avião sonha, sonha...

Sonha com o alarido de felicidade das crianças, com as alegrias e as tristezas de chegadas e partidas...

Quando a tesoura mecânica penetra na sua fuselagem arrancando-lhe os pedaços, ele continua inabalável com o olhar fixo no horizonte, pois há muito tempo sua alma de avião atingiu os ares, e lá permanece para conduzir outras almas a paraísos distantes.        

Jandira Weber
Imagem: Google


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