O dia amanhecera cinzento.
Perfilado ao centro da pista, o velho avião espera
pacientemente a ordem para decolar. Com o coração aos saltos ele mal pode
controlar sua ansiedade. Sabe que este será seu último voo, pois ouvira o
comandante dizer que já estava velho demais para continuar.
- Vou provar a eles que estão enganados, pensou o velho
avião, mirando a linha do horizonte como fizera muitas e muitas vezes.
Potência máxima. O ronco dos motores ecoou pelos ares.
Voruuumm...
A velha fuselagem range e estala, e, aos poucos o avião vai
se desprendendo do solo. É só uma questão de segundos e ele logo alcançará os
ares.
Já nas alturas, o velho bimotor abre ao máximo suas asas,
como uma grande e prateada fragata deixa-se planar, planar... Embalado mais uma vez, pela algazarra juvenil
dos passageiros, rumo à cidade de Orlando na Flórida.
Dia após dia, noite após noite, o velho avião sonha esquecido
a um canto do aeroporto. Sua fuselagem reluzente com letreiros azul, que
outrora cintilavam ao sol, hoje não passa de uma mistura de pó e ferrugem carcomida
pelo tempo.
E o velho avião sonha, sonha...
Sonha com o alarido de felicidade das crianças, com as alegrias
e as tristezas de chegadas e partidas...
Quando a tesoura mecânica penetra na sua fuselagem
arrancando-lhe os pedaços, ele continua inabalável com o olhar fixo no
horizonte, pois há muito tempo sua alma de avião atingiu os ares, e lá
permanece para conduzir outras almas a paraísos distantes.
Jandira
Weber
Imagem:
Google
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