sábado, 23 de junho de 2012

Entrega



                  A cidade a seus pés fazia-o refletir sobre os últimos acontecimentos de sua vida. Maravilhado com  o belo espetáculo que vislumbrava, não podeia deixar de sentr-se extasiado com tanta beleza que aquelas colinas lhe propiciavam. Um belo entardecer – pensou - passando os dedos entre os platinados de seus fios que teimavam em tornar-se visíveis pelos anos que já vivera.

                       De repente, seus olhares  se cruzaram e aqueles olhos verdes que tão bem conhecia, cintilavam qual esmeraldas e lhe queimavam o ser. Chegou devagarinho, qual anjo descido  de algum afresco medieval. Permaneceram em silêncio, sem conseguir desviar o olhar um do outro.Tempo demais - pensou Paulo, num lampejo de consciência quase inconsciente, pois para ele a paisagem e ela  nesse momento eram parte de um só cenário. Aproximaram-se mais um do outro, até sentirem o calor de seus corpos e não conseguiram fugir da mesma sensação de quando de longe se cruzavam pelas ruas da cidade.

                      O coração bateu descompassadamente, era sempre a mesma sensação. Faltava-lhes o ar cada vez que seus olhares sorrateiramente se encontravam. Ele mais que ninguém sabia que aquele encontro mergulhado no silêncio, não era um silêncio qualquer. Buscou rapidamente em suas memórias, vasculhou até o fundo de sua alma e não encontrou em nenhum momento de seus anos sentimento tão forte, tão intenso e perturbador - e essa menina não devia ter mais que vinte e poucos anos - pensou apertando suas mãos nervosamente.

                  O peito lhe doía, o coração batia forte - um momento de encantamento - pensou, mas não, ela estava ali, ao seu lado, viva, úmida à espera de um gesto. Não sabia o que fazer, não sabia como agir, diante desse anjo, diante dessa paisagem, diante desse silêncio magistral – Amava-a.

                 Num fulgor rápido, sentiu dentro de si a verdade que tentara soterrar naquelas terras de verde profundo, de colinas enfeitiçadas: estivera esperando-a toda uma eternidade, como aquelas colinas esperam o sol ao final da tarde para mansamente acostarem-se sob o manto cúmplice da noite. E no silênco murmurou: -Amo-te! - e as lágrimas foram testemunhas daquela felicidade, daquele momento em que seus lábios tocaram-se sem pressa- descobrindo-se.

                    Olharam-se mil vezes, saciaram suas esperas em beijos. Tocou-a nesse instante e mais uma vez quebrou o silêncio, e contrário a todos seus dogmas, descendo de seu pedestal de cautela, curvou-se a esse amor: - Mariana, entrego-me a ti, pois já não sei agir com a razão, já não sei o que é pecado ou não, mas, se para ti sou teu primeiro amor, forja em teu coração assim como está forjado no meu: és meu último amor.


Gladys Giménez

Imagem: Google

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