sábado, 8 de agosto de 2015

Ausências d´alma



 Deus, por que as feridas n´alma?         
Por que não posso ver as injustiças
E calar? Por que tenho que sofrer?
As constatações trazem o padecer
Ao matear o silêncio no fim do dia.
O andejar pesa na mente, judia!
As razões para lutar já cansadas,
As insônias varam madrugadas
Nos vultos disformes da mataria.
E o clarão da lua cheia é prataria
Refletida nos pingentes do sereno
Ausente, aquele corpo moreno
É veneno e antídoto pra poesia.

Que alma é essa que embaça o olhar
E molha, às vezes, as costas da mão?
Bate duro no peito fere o coração.
Que esculpe o rosto ao passar.
E ao resolver sair a cavalgar
Bota o pé no estribo do vento.
Após imolar-se no relento
Faz-se rainha no lombilho.
O som do galope é estribilho,
Cochichado em cada tento
Das franjas do tirador já fino.
Teimosa, rascunha o destino
Na lonca do pensamento.

Cruza de mouros e guaranis,
Ao desfrutar da liberdade,
Abusa; ao escolher o visual.
Depois de rolar no pastiçal,
É garça branca do sarandi.
É algazarra de bem-te-vi,
Cavalgando o taquaral.
Quando retorna ao carnal,
Duvido que saiu de mim,
Mas a visto mesmo assim.
Tantos deveres sem direitos!
Se optasse por outro peito
Os anseios seriam os meus?
Como eu a reconheceria?
Será que a compreenderia?
Quantas dúvidas, meu Deus!

 Na fogueira de estrelas da lagoa,
Quando navega o firmamento
Na magia única do momento,
Ela vai esvoaçante na proa,
Na esteira branca da canoa,
Vai rascunhando a partitura.
Depois é milonga da lonjura
Expressa na brasa acesa.
Ao ser rima sobre a mesa,
Derrama-se em ofertório,
Vai do paraíso ao purgatório.
E num pedido de oração,
Irmana desejo e emoção.
E no tempo lento que passa,
Depois de retornar à carcaça,
Sente-se culpada pede perdão!
Mas ao ouvir a voz da razão,
Mostra-se arredia, inquieta.
Não tem paz alma de poeta,
Pois vive de anseios e ilusão.
Se encontrar a alma gêmea,
Talvez o perfume da fêmea
Possa apaziguar o coração.
Que alma... Meu Deus!

José Pires
Imagem: Google

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