sábado, 15 de julho de 2017

Boca de siri




O título deste texto é uma expressão quase em desuso,    mas que já foi da moda no passado, quando queríamos que alguém guardasse segredo de uma descoberta muito importante. Ela me vem à lembrança no presente, por conta da megatentativa da Policia Federal em moralizar o país.

Cresci num arrabalde, meio urbano, meio campestre, mais chegado para a natureza do que para o cimento armado. Costumávamos à tarde, mal chegados da escola, sair pelo campo, à procura de diversão.

Certo dia, descobrimos num tronco apodrecido, uma enorme colmeia, abarrotada de mel. Decidimos que uma descoberta tão valiosa deveria permanecer em segredo, portanto, boca de siri. Ninguém mais poderia saber da sua existência.

Retornamos para casa, trazendo algumas amostras e tivemos que justificar a sua procedência. Mesmo assim, o segredo e a colmeia se mantiveram por dois ou três dias, até que a notícia se espalhasse.

A partir dai, foi um verdadeiro alvoroço. Todo mundo queria retirar um pouquinho do mel. As mães diziam que ele era medicinal, atuava contra as infecções de garganta.

 A criançada queria se esbaldar, o mel é doce e o que é mais doce e saudável do que o mel natural, direto da fonte? Havia até um ou outro comerciante dando uma espiada, para saber se de lá poderia tirar algum proveito. Enfim, mexemos numa abelheira, sem termos competência para melar.

Depois de uma semana, o cenário era desolador. Restos de favo espalhados pelo chão, o tronco hospedeiro feito em pedaços e o pior, os ovos e as larvas do enxame pisoteados e sendo arrastados pelas formigas.

Passado tanto tempo daquele episódio, por mais ingênuo e singelo que possa parecer, faço aqui uma analogia das minhas peraltices de criança, com o que os políticos fizeram com a gigante Petrobras. Descobriram uma fonte rica e saudável, a qual julgaram ser de recursos inesgotáveis.E não souberam guardar o segredo.

Apesar do gigantismo, a fonte expôs suas fragilidades e por ali penetraram os predadores. Gananciosos, foram longe demais e perderam o controle. Inicialmente, a fonte alimentava pequenos feudos, mas com o passar do tempo, toda a corte se habilitou.

Em um país onde o povo é politicamente submisso,  como somos, tudo pode acontecer. Nossos valores positivos há muito que se perderam no tempo e hoje, o que mais consumimos são: fraudes e corrupção.

Precisamos criar um fato novo, botando a “boca no trombone”, mostrando indignação e que, se às vezes agimos como cordeiros, quando acuados, também saberemos morder como lobos.
Anildo M. da Silva


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