Quando me pedem para
relembrar algum episódio agradável ocorrido na minha infância, entre tantas
boas lembranças, certamente não faltará alguma escaramuça escolar. A escola
para mim, era tudo de bom.Isto porque, saí do ambiente sisudo, adulto e de
poucas palavras da minha casa, para um mundo louco, descontraído, de correria,
brincadeiras irreverente, mas muito meu. Crianças, muitas crianças, fazendo tudo
o que as crianças podiam fazer. De repente, ouvia-se o som meio abafado de uma
sineta e de pé, no topo da escada, uma professora chamava:
- Façam filas para entrarem
nas salas!
Que ambiente maravilhoso! Que
energia positiva! E que professoras! Lembro-me de todas, lembro dos nomes e se
puxar um pouco pela memória, talvez ainda saiba os sobrenomes. De algumas me lembro
do sorriso, de outras do rosto cordial, por vezes uma voz severa, mas sempre um
conselho proveitoso. Nunca fui um exemplo de aluno e as reprimendas que
eventualmente recebi foram graças ao meu temperamento indócil.Professoras
sempre representaram muito para mim.Com sua singeleza e sensibilidade apurada,
conseguiam me fazer aceitar o autoritarismo exacerbado do meu pai e colocá-lo
na galeria dos heróis, onde todos os pais deveriam estar. Lá, eu conseguia
liberar um pouco mais as minhas emoções, dialogar com os meus iguais, arriscar
uma arte sem receber castigo. As pessoas que agora estão lendo estes meus
escritos, não pensem que estou delirando, ou talvez chegando ao planeta Terra
vindo de outra galáxia. Esta escola tão acolhedora, com professoras tão
maravilhosas, que na década de 1960 me recebeu e me transformou, existe sim,
tem nome e tem endereço. Renovou o corpo docente é claro, mas os objetivos são
os mesmos. Então, o que mudou? Nós mudamos, a sociedade adoeceu, é um
embrutecimento coletivo, consequência da ganância desmesurada e da sede do
poder sem limites. Lemos, ouvimos e vemos todos os dias, notícias ruins vindas
de todos os lados, dando-nos conta de que o amor entre as pessoas já não tem a
mesma conotação. Filhos matando os pais, mães descartando filhos, cresce o
abismo entre os irmãos. Ouço que no interior do estado um aluno foi pego dentro
da escola, portando uma espingarda para matar uma professora, seu desafeto. Pelo
amor de Deus, as professoras não! Elas, ou eles, são o último baluarte, a última
esperança que temos de reconstrução de uma sociedade íntegra, justa e produtiva.
Aos pistoleiros de plantão, se querem destruir, procurem ajuda e destruam o que
tem de ruim dentro de vocês, mas deixem os professores em paz.
Imagem: Ensaios de gênero – Word Press.com
Belo texto, parabéns!
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