sábado, 9 de setembro de 2017

A professora, não!



Quando me pedem para relembrar algum episódio agradável ocorrido na minha infância, entre tantas boas lembranças, certamente não faltará alguma escaramuça escolar. A escola para mim, era tudo de bom.Isto porque, saí do ambiente sisudo, adulto e de poucas palavras da minha casa, para um mundo louco, descontraído, de correria, brincadeiras irreverente, mas muito meu. Crianças, muitas crianças, fazendo tudo o que as crianças podiam fazer. De repente, ouvia-se o som meio abafado de uma sineta e de pé, no topo da escada, uma professora chamava:

- Façam filas para entrarem nas salas!

Que ambiente maravilhoso! Que energia positiva! E que professoras! Lembro-me de todas, lembro dos nomes e se puxar um pouco pela memória, talvez ainda saiba os sobrenomes. De algumas me lembro do sorriso, de outras do rosto cordial, por vezes uma voz severa, mas sempre um conselho proveitoso. Nunca fui um exemplo de aluno e as reprimendas que eventualmente recebi foram graças ao meu temperamento indócil.Professoras sempre representaram muito para mim.Com sua singeleza e sensibilidade apurada, conseguiam me fazer aceitar o autoritarismo exacerbado do meu pai e colocá-lo na galeria dos heróis, onde todos os pais deveriam estar. Lá, eu conseguia liberar um pouco mais as minhas emoções, dialogar com os meus iguais, arriscar uma arte sem receber castigo. As pessoas que agora estão lendo estes meus escritos, não pensem que estou delirando, ou talvez chegando ao planeta Terra vindo de outra galáxia. Esta escola tão acolhedora, com professoras tão maravilhosas, que na década de 1960 me recebeu e me transformou, existe sim, tem nome e tem endereço. Renovou o corpo docente é claro, mas os objetivos são os mesmos. Então, o que mudou? Nós mudamos, a sociedade adoeceu, é um embrutecimento coletivo, consequência da ganância desmesurada e da sede do poder sem limites. Lemos, ouvimos e vemos todos os dias, notícias ruins vindas de todos os lados, dando-nos conta de que o amor entre as pessoas já não tem a mesma conotação. Filhos matando os pais, mães descartando filhos, cresce o abismo entre os irmãos. Ouço que no interior do estado um aluno foi pego dentro da escola, portando uma espingarda para matar uma professora, seu desafeto. Pelo amor de Deus, as professoras não! Elas, ou eles, são o último baluarte, a última esperança que temos de reconstrução de uma sociedade íntegra, justa e produtiva. Aos pistoleiros de plantão, se querem destruir, procurem ajuda e destruam o que tem de ruim dentro de vocês, mas deixem os professores em paz.

Anildo M. da Silva –Aposentado.

Imagem: Ensaios de gênero – Word Press.com

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