Neste mês de setembro findo,
em que se registrou os 180 anos do início da Revolução Farroupilha, peço licença
aos amigos leitores para homenagear um dos personagens mais destacados desta
gesta épica (e também, certamente, o mais polêmico): David José Martins, o taquariense David Canabarro.
O grande general farroupilha
nasceu, filho de pais descendentes de ilhéus açorianos, em 22 de agosto de 1796,
aqui na nossa Taquari, a uns 6 quilômetros da sede da antiga freguesia, na
localidade de Pinheiros. A casa na estância natal existia até há pouco tempo(li,
no Correio do Povo,há uns 40 anos, que a casa, abandonada, descuidada, servia
até como criatório de porcos.). Seus avós paternos, naturais da Ilha Terceira
dos Açores, eram José Martins Faleiros e Jacinta Rosa. Um filho deste casal,
José Martins Coelho, casa-se com uma moça nascida em Triunfo, Mariana Inácia de
Jesus, filha de Manuel Teodósio Ferreira e Perpétua de Jesus. Este casal José e
Mariana muda-se, então, para uma estância em Taquari onde nosso herói nasce e vive
até seus 15 anos.
David inicia sua longa e
vitoriosa vida militar na campanha Cisplatina de 1811/12, substituindo o irmão
mais velho, Silvério, que era mais necessário nas lides campeira da estância da
família. Inicia de reles soldado até o ápice da carreira como general: lutou
nesta guerra, depois lutou contra Artigas, de 1816 a 1820, mais tarde, já como
tenente, luta nas forças do futuro Presidente da República Farroupilha, Bento
Gonçalves da Silva, na guerra de 1825 a 1828, à que culminou com a
independência do Uruguai. Com pouco mais de 30 anos volta temporariamente à
vida civil, agora ao lado do tio Antônio Ferreira Canabarro, numa estância em
Santana do Livramento. É este tio o responsável pela assunção do nome
Canabarro: o tio morre, e David assume a tia, a estância e o sobrenome.
Com a Revolução
Farroupilha, ele volta ao palco bélico como tenente. Como todos sabemos, atinge
aí o generalato e a Comando geral de todas as forças da frágil República.
Feita a paz de Poncho
Verde, sina guerreira, vai agora guerrear nas campanhas contra Rosas e Aguirre,
sendo seu canto de cisne a guerra do Paraguai. Acaba “General Honorário do
Exército Brasileiro”. Morre o nosso herói, miseravelmente caluniado, na
estância de São Gregório, a12 de abril de 1867. Portanto, longa vida, aos 71
anos incompletos.
As calúnias apontadas em
direção ao grande general, referem-se, fundamentalmente, ao “incidente de
Porongos”, nódoa que mancha a história da gloriosa revolução e, principalmente,
a biografia do general farroupilha. (Este
episódio, Porongos, já foi, por mim, amplamente tratado em texto
recém-publicado em jornal de Taquari, e neste conceituado Blog do Prédidi.)
A respeito da sua morte,
assim a noticiou um jornal do Rio de Janeiro: “Tendo sido um notável caudilho da revolução por que passou esta
Província, na qual adquiriu a reputação de bravo e habilidoso para a guerra,
desceu ao túmulo acompanhado de graves acusações que a história um dia
decifrará se foram merecidas ou injustas”.
Eu prefiro o manter no
panteão sagrado dos heróis nacionais. Seguindo as palavras do genial Charles
Chaplin, “O mundo não é composto
de heróis e vilões, mas de homens e mulheres, com todas as suas paixões que
Deus lhes deu. O ignorante condena, o sábio se compadece.”
Portanto, vou preferir sempre lembrar: do herói de duas Províncias,
a nossa e a de Santa Catarina (onde,também, foi presidente da efêmera República
Juliana); do homem que lutou pela sua Pátria até quase sua velhice; do comandante
que ao receber oferta de emissários platinos de apoio militar na guerra farroupilha
responde, “diga a seu chefe que
assinaremos a paz com o Império com o sangue do primeiro invasor estrangeiro
que atravessar a fronteira; pois, antes de tudo, somos brasileiros!”
Se pecados teve (e quem, mortal, não os tem!?) a morte e a eternidade já
por certo os redimiram.
Por fim, um acréscimo etimológico: foi o David que cunhou a famosa frase
(ao menos era no meu tempo de guri!) “boi de botas”, com a qual elogiava o bravo Corpo dos Lanceiros Negros
do seu exército que, quando da invasão por terra à vila de Laguna, teve que
marchar na íngreme subida da serra por brenhas inóspitas e pantanosas.
That’sAllFolks!
João Paulo da Fontoura
Imagem: Panoramio
João Paulo grande conhecedor de história e com alto grau de cultura geral, por ser um leitor assíduo dos mais diversos assuntos que dizem respeito à nossa sociedade e mundo afora.
ResponderExcluirGrande Engenheiro Hoffmann,
ResponderExcluirQuerido amigo, credito estas elogiosas palavras muito mais como um gesto de amizade e carinho que ambos temos um pelo outro. Abraços ao amigo e conspícuo escritor.