sábado, 23 de setembro de 2017

David Canabarro

Neste mês de setembro findo, em que se registrou  os 180 anos do início da Revolução Farroupilha, peço licença aos amigos leitores para homenagear um dos personagens mais destacados desta gesta épica (e também, certamente, o mais polêmico): David  José Martins, o taquariense David Canabarro.

O grande general farroupilha nasceu, filho de pais descendentes de ilhéus açorianos, em 22 de agosto de 1796, aqui na nossa Taquari, a uns 6 quilômetros da sede da antiga freguesia, na localidade de Pinheiros. A casa na estância natal existia até há pouco tempo(li, no Correio do Povo,há uns 40 anos, que a casa, abandonada, descuidada, servia até como criatório de porcos.). Seus avós paternos, naturais da Ilha Terceira dos Açores, eram José Martins Faleiros e Jacinta Rosa. Um filho deste casal, José Martins Coelho, casa-se com uma moça nascida em Triunfo, Mariana Inácia de Jesus, filha de Manuel Teodósio Ferreira e Perpétua de Jesus. Este casal José e Mariana muda-se, então, para uma estância em Taquari onde nosso herói nasce e vive até seus 15 anos.

David inicia sua longa e vitoriosa vida militar na campanha Cisplatina de 1811/12, substituindo o irmão mais velho, Silvério, que era mais necessário nas lides campeira da estância da família. Inicia de reles soldado até o ápice da carreira como general: lutou nesta guerra, depois lutou contra Artigas, de 1816 a 1820, mais tarde, já como tenente, luta nas forças do futuro Presidente da República Farroupilha, Bento Gonçalves da Silva, na guerra de 1825 a 1828, à que culminou com a independência do Uruguai. Com pouco mais de 30 anos volta temporariamente à vida civil, agora ao lado do tio Antônio Ferreira Canabarro, numa estância em Santana do Livramento. É este tio o responsável pela assunção do nome Canabarro: o tio morre, e David assume a tia, a estância e o sobrenome.

Com a Revolução Farroupilha, ele volta ao palco bélico como tenente. Como todos sabemos, atinge aí o generalato e a Comando geral de todas as forças da frágil República.

Feita a paz de Poncho Verde, sina guerreira, vai agora guerrear nas campanhas contra Rosas e Aguirre, sendo seu canto de cisne a guerra do Paraguai. Acaba “General Honorário do Exército Brasileiro”. Morre o nosso herói, miseravelmente caluniado, na estância de São Gregório, a12 de abril de 1867. Portanto, longa vida, aos 71 anos incompletos.

As calúnias apontadas em direção ao grande general, referem-se, fundamentalmente, ao “incidente de Porongos”, nódoa que mancha a história da gloriosa revolução e, principalmente, a biografia do general farroupilha.  (Este episódio, Porongos, já foi, por mim, amplamente tratado em texto recém-publicado em jornal de Taquari, e neste conceituado Blog do Prédidi.)

A respeito da sua morte, assim a noticiou um jornal do Rio de Janeiro: “Tendo sido um notável caudilho da revolução por que passou esta Província, na qual adquiriu a reputação de bravo e habilidoso para a guerra, desceu ao túmulo acompanhado de graves acusações que a história um dia decifrará se foram merecidas ou injustas”.

Eu prefiro o manter no panteão sagrado dos heróis nacionais. Seguindo as palavras do genial Charles Chaplin, “O mundo não é composto de heróis e vilões, mas de homens e mulheres, com todas as suas paixões que Deus lhes deu. O ignorante condena, o sábio se compadece.”

Portanto, vou preferir sempre lembrar: do herói de duas Províncias, a nossa e a de Santa Catarina (onde,também, foi presidente da efêmera República Juliana); do homem que lutou pela sua Pátria até quase sua velhice; do comandante que ao receber oferta de emissários platinos de apoio militar na guerra farroupilha responde, “diga a seu chefe que assinaremos a paz com o Império com o sangue do primeiro invasor estrangeiro que atravessar a fronteira; pois, antes de tudo, somos brasileiros!”

Se pecados teve (e quem, mortal, não os tem!?) a morte e a eternidade já por certo os redimiram.

Por fim, um acréscimo etimológico: foi o David que cunhou a famosa frase (ao menos era no meu tempo de guri!) “boi de botas”, com a qual elogiava o bravo Corpo dos Lanceiros Negros do seu exército que, quando da invasão por terra à vila de Laguna, teve que marchar na íngreme subida da serra por brenhas inóspitas e pantanosas. That’sAllFolks! 


João Paulo da Fontoura
Imagem: Panoramio

2 comentários:

  1. João Paulo grande conhecedor de história e com alto grau de cultura geral, por ser um leitor assíduo dos mais diversos assuntos que dizem respeito à nossa sociedade e mundo afora.

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  2. Grande Engenheiro Hoffmann,
    Querido amigo, credito estas elogiosas palavras muito mais como um gesto de amizade e carinho que ambos temos um pelo outro. Abraços ao amigo e conspícuo escritor.

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